Aparecimento raro de espécie albina nunca antes vista no Brasil é curioso, mas pode ser mau sinal
O espécime é raro porque essa característica não costuma ser encontrada em primatas de territórios tropicais, como a América Central e a América do Sul; no Brasil, o registro é inédito
Uma espécie rara de sauá (Callicebus nigrifrons), primata endêmico do Brasil na região Sudeste — entre Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, além de alguns territórios no oeste mineiro (na Serra da Mantiqueira e do Espinhaço) — foi capturada por câmeras do Parque Estadual do Rio Doce (Perd), em Minas Gerais, esta semana.
O espécime é um sauá albino, raro porque essa característica não costuma ser encontrada em primatas de territórios tropicais, como a América Central e a América do Sul.
Entre os sauás, aliás, foi o primeiro registro até então.

Primeiro registro de sauá albino capturado por drone no PERD.
Créditos: divulgação
Mas a raridade do avistamento pode não ser um bom sinal. O albinismo é uma condição causada, por vezes, devido ao isolamento genético que vem de populações sem variedade suficiente, o que pode se relacionar à degradação de áreas de habitat natural da espécie no parque, que é ameaçado pela expansão da atividade monocultora.
Outros fatores de possível associação são a presença de poluentes de água e ar, que interferem no material genético dos animais, a exemplo do dióxido de nitrogênio e de enxofre, emitidos pela queima de fósseis em indústrias.
O Parque Estadual do Rio Doce, no Vale do Rio Doce, é lar de boa parte da biodiversidade de Minas Gerais e uma das principais áreas de proteção de território de Mata Atlântica, com a maior faixa contínua preservada desse bioma no estado (cerca de 36 mil hectares).
As espécies de fauna são variadas: capivaras, antas, onça-pintada, diversos primatas (como o macaco-prego-preto e o próprio sauá), papagaios e pacas.
O sauá é um dos primatas mais característicos da região da Mata Atlântica, de pequeno porte e pelagem marrom-escuro, com a cabeça mais escura do que o corpo. Ele tem um comportamento ágil e silencioso e se concentra em pequenos grupos na floresta. O avistamento do primeiro sauá branco já notificado na Mata Atlântica foi parte de um levantamento populacional realizado pelo projeto Primatas Perdidos, que mapeia áreas do parque usando drones a fim de estudar os hábitos das populações que habitam a região.
Das cinco espécies de primatas que ocorrem no parque — bugio-ruivo (Alouatta guariba), muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), macaco-prego (Sapajus nigritus), sauá (Callicebus nigrifrons) e sagui-caveirinha (Callithrix aurita) —, três são ameaçadas de extinção: o sagui-caveirinha já foi incluído na lista dos 25 primatas mais ameaçados do mundo.
O trabalho da iniciativa no PERD está focado, agora, em catalogar a população de muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), considerado o maior primata das Américas, remanescente no parque. A espécie está criticamente em perigo na lista internacional da IUCN e figura entre os 25 primatas mais ameaçados do mundo.
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