quinta-feira, 9 de abril de 2020

TELONA QUENTE 326


Roberto Rillo Bíscaro

Quando cogitamos o infinito, tendemos a imaginar a vastidão do espaço sideral. Tomando-nos como referencial, pensamos de nós “pra fora”. Mas, o infinitesimal também não seria infindável? E se adotássemos uma perspectiva de nós “pra dentro”?

Esse é o mote do romance O Incrível Homem que Encolheu, de Richard Matheson, publicado em 1956 e que, já no ano seguinte, foi adaptado pras telonas, dirigido pelo ótimo Jack Arnold, o mesmo de It Came From Outer Space, Tarantula e O Monstro da Lagoa Negra.

Devido à exposição a uma sinistra combinação de radioatividade e pesticidas, um cidadão comum, Scott, começa a diminuir incontrolavelmente até se tornar tão diminuto que uma aranha doméstica passa a ser descomunal inimigo. A tarântula de Arnold agora não mais precisaria crescer pra se agigantar; foi o ser-humano que se apequenou.

O branco e preto O incrível Homem Que Encolheu provavelmente funcione até hoje com quem esteja disposto a dar um tempo no colorido cegante e efeitos especiais ultrônicos de agora. Quando Scott encontra-se sozinho no porão de casa - agora transformado num mundo tão desconhecido e perigoso, quanto um planeta alienígena ou a ilha de Robinson Crusoe – o filme ainda prende a atenção e causa suspense.

O grande terror de The Incredible Shrinking Man é a desfamiliarização. Enquanto Scott possuía tamanho “normal” pra ser-humano, controlava – pelo menos supunha que – seu ambiente, sua vida, seu gato de estimação. Uma coisa alterada em seu metabolismo e a sensação de poder se esvai. Seu bichano passa a vê-lo como petisco.

O poder metafórico do livro/filme é matéria da melhor ficção-científica, afinal, quem não se desespera com a perda do controle, da autonomia? Encolher é fantasioso, mas ficar em cadeira de rodas ou ter alzaimer, não. Imagine tudo isso acontecendo com um macho adulto branco!

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